terça-feira, 26 de outubro de 2010

Testemunha auricular (*)

(*) Escrito em 10/9/2008

Passos, susurros intermináveis,
expressos com desvelo paterno,
no quarto ao lado insistem em haver.
Palavras balbuciadas
em sons entrecortados pelo meu coração pulsante,
acelerado,
que ouço em prantos,
em desalento pelo que já fomos.
Eis que num rompante as trombetas que jaziam reprimidas
explodem com tons gritantes
e os baques das coisas que por lá havia
abalam as paredes do meu mundo
e me estremecem muito mais.
E o céu que parecia cair se cala,
em silêncio assaz profundo,
e dura mais que um instante,
e perpetua pelos cantos,
assustando-me 'inda mais
que os gritos
e os estampidos
e o quebrar dos ossos.
E porquanto nada sei
e nada vejo
e nada entendo,
apóio-me nas grades do meu berço
e toco os móbiles que papai e mamãe ali prenderam,
um dia,
quando eles ainda sorriam.

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