(*) Escrito em 19/9/2008
Partes de mim se separam em
verve e em indolência,
a provocar-me,
como num dueto dissonante.
Somos eu e minha contraparte, desconhecidos
da paz de mim mesmo,
fosse eu um só ente,
e houvesse em nós um consenso.
Sou cria do embate entre
o ego e o alter ego,
o certo, o incerto
(essas vozes dogmáticas,
dialéticas).
Permeio com igual desenvoltura
as paragens do meu céu
e do meu inferno,
e ambos me querem bem,
embora não lhes prometa fidelidade.
Um dia, em resposta a uma casualidade trôpega,
fomos chamados à presença
de um deus escolhido a esmo
pela inconsciência delirante.
"Dê-me um de vocês a razão
para julgá-los
e julgarei um
e salvarei o outro".
Partes de mim se ajoelharam,
partes de mim mostraram-lhe um dedo.
E o deus de alhures,
alimentado pela inconsistência
da minha sobriedade,
deixou soltar um grito mórbido,
e morreu ele mesmo,
arrebatado,
pela minha dupla divindade.
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