segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Sobre vestibulares e aptidões

Bastante criticados em sua época, os sofistas introduziram uma prática indissociável da vida moderna: a "venda" do conhecimento. Não obstante a insistência de políticas que tentam universalizar a oferta do saber e lutam bravamente para que o Estado tutele os menos favorecidos, a prática está longe, quiçá definitivamente longe, de contemplar essas intenções. O que se vê é o oposto: pequenas escolas privadas, cursinhos preparatórios para concursos e vestibulares, estabelecimentos comerciais nas mãos de aventureiros, transformam-se, milagrosamente, em instituições que se oferecem como solução para os desprivilegiados. Aqui e ali, surgem "faculdades" e "universidades", desprovidas das mínimas condições materiais e pedagógicas, verdadeiras fábricas de ilusões.

Os vestibulares, concursos para a admissão de postulantes ao estudo superior, sempre foram alvo de questionamentos sobre sua validade, prática e ética: se avaliam com justeza os candidatos, se têm caráter elitista ao "privilegiar" as classes mais altas da sociedade, na cobrança de conteúdos mal desenvolvidos nas escolas públicas e até se, ao permitirem o ingreso de alunos despreparados, garantem-lhes uma desenvoltura condizente com as exigências dos currículos.

Mais recentemente, para incentivar a adesão de pessoas relativamente mal formadas, especialmente as que há muito deixaram os estudos, as instituições privadas de nível superior simplificaram seus vestibulares, limitando a cobrança a, na melhor das hipóteses, uma redação discursiva mais algumas poucas questões sobre português, matemática ou conhecimentos gerais. Seria brilhante, na visão das mesmas dúvidas já abordadas sobre os certames, se a providência garantisse, pelo menos, a qualidade da avaliação dessas poucas habilidades. O que se vê, contudo, é a tentativa, aparentemente desesperada, de garantir o número das turmas, evitando-se o cancelamento de cursos pela baixa proficiência dos aspirantes.

Trato desse assunto com a preocupação acerca do bem estar dos que são submetidos aos processos simplificados. Não há que se duvidar das capacidades de aproveitamento de indivíduos sujeitos a avaliações interpretativas bem fundamentadas e que a elas tenham logrado êxito. Penso, mesmo, que a aptidão para bem entender uma argumentação e oferecer-lhe respostas apropriadas traz o estudante para um "bom caminho", em qualquer senda por que enverede. Sinto-me, porém, decepcionado com as práticas. No meu curso de Filosofia, por exemplo, há colegas que me parecem totalmente deslocados em suas intenções, para não dizer que estão incapacitados para prosseguir no curso. Chego, mesmo, a duvidar de mim, na medida em que fui admitido em universidade que dá guarida a quem assim se expressa:

"Boa noite eu acho a filosofia moito complexo, uns so sabe confundi os conhecimentos e nada sabe explicar, deixando duvidas para quem gosta de filosofia mas estar iniciando, outros explicam divinamente, desprtandomais interesse pela filosofia. eu quero aprender de forms msid claro".

Mais que verificar uma provável incompetência nas condições que levaram à existência da situação, trata-se de um desrespeito pelo indivíduo, que, forçado a manifestar-se, vê desnudada suas limitações de modo vexatório.

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