segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Digressão sobre a alma (*)

(*) escrito em 1º/9/2010, em fórum sobre questões filosóficas. É aconselhável despir-se de preconceitos e de literalidade para tentar o entendimento.

E se a alma existisse? E se ela fosse um órgão do corpo humano? E se, um dia, a ciência conseguisse transplantá-la, como já faz com tantos órgãos, para salvar um corpo doente? Minha alma doente, então, poderia ser salva? Mas quem e em que comparação se faria sobre quão boa é a alma que sai e aquela que vem? Seria eu mesmo, desgostoso de mim, a tentar roletas-russas com as decadências alheias? Ah, sorte, quem me a daria!, trocar de alma com a de um santo!

Desistiriam os santos das suas almas para salvar as dos pecadores? Perdoá-los-ia Deus, pelo sacrifício dos que se fizessem maus para o bem dos outros? O homem bom, ao trocar de lugar comigo, teria então e somente um nada, nada atraente, desprovido das virtudes que eu mesmo persigo!

Ah, minha alma, houvesse cura para mantê-la comigo! Quisera depender de mim, para somente por mim interceder e, no esforço de me remediar, eu o faria por nós e pelas almas que ofendi! Perdoar-me-iam, todos, se eu me consertasse sozinho, sem tomar de outros as virtudes que não tenho?

Se a alma existisse, quem me dera houvesse um remédio para curar a minha e, com a minha, resgatar meu mundo! Eu seria, contudo, o mesmo eu que já sou, numa alma cansada, sem garantia de fábrica, recondicionado, funcionando, mas imprevisível!

Menos mal!

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