A solidão é boa até um limite muito determinado, aquele em que se precisa verbalizar as angústias para purgá-las.
Vejo as comadres, ali, na copa, há horas lamentando-se, umas com as outras, pelas desventuras dos seus próprios dias, os filhos em caminhos tortos, o vizinho insuportável, o "amigo" a quem se avalizou e não cumpriu os compromissos. Os relatos vêm em palavras duras, chorosas, enquanto as ouvintes se debruçam em compreensões. Quando a hora não permite mais a sessão coletiva de pseudo-psicoterapia, abraçam-se contentes, agora rindo, prontas para oferecer o melhor "bom dia" que eu costumo ouvir, diariamente. Eu as admiro e as invejo.
As complexidades que me atingem não se limitam às coisas do dia-a-dia. Sou cúmplice das agruras de um mundo de quem procuro conhecer as entranhas, cirurgicamente, embora não identifique, sequer, as partes do seu corpo: onde ele começa? Onde ele termina? Limito-me, assim, a estabelecer metas e atirar-me a elas na esperança de estar no caminho certo, tentando sortes mais perigosas para mim mesmo que para os outros.
Ninguém parece estar preocupado em prestar contas de perguntas que não são feitas. Na constatação reside a morbidez da minha luta: dar satisfação para a minha alma sobre o que ela não consegue explicar nem para as almas que a circundam.
Eis, pois, a frustação do pensador solitário: falar sozinho, como um louco, até que a loucura realmente o alcance.
concordo em tudo solidarizo-me com vc... penso que às vezes minha luta diária é solitária mas quando encontro alguém que fala assim, conformo-me e me alivio...
ResponderExcluirÉ um alívio para mim também!
ResponderExcluirFique à vontade para escrever quando quiser, ou aqui nos comentários ou para o email que está divulgado no cabeçalho do blog!
Podem ser conversas proveitosas!
Abraço!