Lembro-me bem de quando fui introduzido no mundo dos mortos. Minha pouca idade justificou o assombramento e os pesadelos que me empurraram, depois, mais de uma vez, para a cama dos meus pais, de madrugada. O vizinho era muito magro e o caixão que o emoldurava tornava mais nítida a impressão de que o que havia, ali, era um boneco dentro de uma caixa. Não era! Era "gente morta", me diziam!
Apesar da sensibilidade afetada, isso não me prejudicou mais do que o anseio recorrente a cada vez que uma eventualidade -- fatalidades foram mais frequentes -- me obrigou a cultuar um "corpo presente".
Hoje, há mortos demais na minha conta. Muitos deles, lembranças queridas com quem sonho de vez em quando. Um pai. Vários irmãos. Vários colegas de trabalho. Muitos com quem tive contato, para mais ou para menos.
Eu não frequento o cemitério no dia dos mortos. Vou fazê-lo, inevitavelmente, quando chegar a minha vez.
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