domingo, 19 de dezembro de 2010

Discurso senil

Sempre ouvi dizer que a "meia idade", para os homens, poderia
representar uma fase de alterações comportamentais, em que nos
atiramos à necessidade de retornar às descobertas da adolescência. Uma
bobagem, admito, a menos que os hormônios, desregulados, fizessem uma
"festa". Não procurei entender veracidades nessa crença, mas ando,
mesmo, bem alterado. Em mim, contudo, o que me intriga são
necessidades opostas: a de me isolar, mais e mais. A de conversar à
distância com gentes que, por similaridade, apaziguem meu espírito
inquieto. Já fui confundido por causa disso. Já me atribuíram rótulos
de aventureiro, apenas porque, na mesma distância -- física, corporal
--, ousei insistir em discursos que todos os dias parecem definitivos.
Precisar da empatia alheia, franca, ainda que ríspida, mas contínua e
não belicosa.

Faço 45 anos em janeiro e já me assusto porque não tenho, apenas, a
metade da minha vida.

5 comentários:

  1. Não te conheço Misantropo, mas te (per)sigo e se serve de consolo, tens em mim empatia silenciosa e não belicosa, e quer saber? conosco (femeas), ocorre algo muito parecido...se é que te interessa.

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  2. Muito obrigado, Brenda, pela gentileza da sua observação.

    Sim, interessa, muito, saber que as loucuras que andam acontecendo comigo não são um início de esquizofrenia (perdão pelo exagero!).

    É verdade tudo isso o que digo, filtrados os sarcasmos e as hipérboles. E sim, ando muito confuso, apesar de tocar a vida como quem pensa entender tudo. Jamais vou deixar de confessar, apesar disso, uma fragilidade com que venho travando uma batalha imensa. Tenho muita consciência das turbulências dentro de mim, embora não saiba muito bem como lidar com elas.

    Mais uma vez, muito obrigado!

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  3. Misantropo, há uma grande vantagem em sabermos de nossas fragilidades (pior aqueles que se acham fortes e poderosos somente). Nos humanizamos, é o grande momento de (re)nascimento.
    somos todos somente seres humanos, com forças, fragilidades, coragens e medos. Poder falar delas é uma boa forma de elaboração. Não se acanhe.
    bote a boca no trombone.
    BJs ouvintes

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  4. Em meio a vidas e mortes diárias são por vezes discursos assim que nos aliviam a alma.

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  5. Brenda e Maria Rita. A pausa de mais de uma semana derivou de um esforço para catalisar suas palavras, entre outras coisas. Acho que posso agradecê-las pela significância das manifestações. Acho, também, que estou razoavelmente preparado para lidar com os próximos passos.

    Obrigado.

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